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Publié par Walter Covens

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No dia seguinte à festa da conversão de S. Paulo, recordávamos S. Tito e S.Timoteu. Foi a Timoteu que .Paulo escreveu a carta na qual se encontra a palavra que me inspirou o título do vosso « Blog » preferido : « Homilias a tempo e a contratempo » :

« Proclama a Palavra, intervem a tempo e a contratempo, denuncia o mal, faz censuras, dá coragem, mas sempre com muita paciência e com a vontade de ensinar (…) Em todas as coisas, conserva o bom senso, suporta o sofrimento, trabalha ao anúncio do Evangelho, cumpre até ao fim o teu  ministério. (2 Tim 4, 2  .5 ; cf antífona do Magnificat do dia 26 de janeiro).

É isso que se podia  qualificar de « caridade do profeta » ou « caridade da ortodoxia ».

« Virá um tempo em que não suportarão mais o ensino sólido (…) Não aceitarão ouvir a verdade e olharão para lendas mitológicas ». (v. 3a…4).

Quem, melhor do que Jesus, praticou o conselho de S.Paulo ? Não será Jesus o primeiro dos evangelizadores ? Ao usar dessa palavra, lembro-vos talvez um daqueles famosos « televangelistas » americanos que enchem salas imensas onde as pessoas ficam sentadas em cadeiras muito confortáveis. Aliás, as celebrações deles são transmitidas a muito custo pelos canais da televisão, não só nos Estados Unidos, mas também no mundo inteiro.

Ora, S.Lucas mostra-nos Jesus na sinágoga de Nazaré… Jesus que conhece um fracasso pungente. No entanto, Lucas mostra-nos Jesus como o modelo dos evangelizadores : « um evangelizador falhado ». Isso é tanto mais estranho que não se trata dum episódio isolado, uma espécie de excepção à regra. É um episódio que é um programa autêntico.

O fim do terceiro Evangelho é este : ser uma espécie de manual do « evangelizador perfeito ». Isso foi sugerido numa tese de doutoramento proferida no Instituto Bíblico pontifical por um estudante americano, que mostrou como todos os passos característicos de Lucas se inspiram provavelmente do grupo de evangelizadores qui percorriam toda a região de Israel e da Siria (cf. homilia do domingo passado : a formação dos evangelhos), a quem, sem dúvida, S.Lucas pertencia . Foi isso que motivou Lucas para prolongar o seu Evangelho pelos Actos, de tal modo que possa dar muitos exemplos de evangelização , à moda de Jesus, na Igreja primitiva.


Desde o princípio, e não só no fim da sua vida, aqueles jovens evangelizadores encontraram a perseguição : em primeiro, da parte dos Judeus, a seguir da parte dos Romanos. No entanto, S.Paulo, que tinha uma grande experiência disso, escreve : « Um tempo virá… ». Portantp, já pensava num futuro diferente do presente e do passado. Isso dá para pensar…

Hoje em dia, qual é a situação ? Nunca a Igreja foi tão perseguida. Nunca, na história da Igreja, a Boa Nova encontrou tal oposição ; nunca houve tantos mártires a derramar o seu sangue pelo Evangelho. Mas, nos países, qualificados de « livres », a oposição mostra-se mais sensa. Por exemplo, é costume opôr, explicitamente ou não, conscientemente ou não, a ortodoxia ( a doutrina justa) e a ortopraxia ( a acção justa), minimizando a primeira e valorizando muito a secunda. Bento XVI notava bem que « aquele quem segue a doutrina justa parece ter um coração estreito, duro, possivelmente intolerante. Tudo dependeria,em fim de contas, da acção justa, enquanto que era possível discutir sobre a doutrina. Os frutos da doutrina seriam só o que é importante, enquanto que os meios usados para chegar à acção justa seriam indiferentes.

Voltaire já dizia que Deus não existe, mas que não se deve dizer muito, uma vez que a religião pode ser útil para manter a ordem na sociedade. Só conservava da fé o que é útil : os valores cristãos, como se diz agora. Foi disso que nasceu, em fim de contas, um humanismo ateu, uma caridade sem Deus e finalmente contra Deus. Disso, nasceu também o marxismo, e o ateismo prático.

Depois da morte do « Abbé Pierre », e no engasgamento dos medias e da opinião pública, meditei muito nisso. No dia mesmo da sua morte, publiquei um artigo a este respeito, no qual escrevia : « Acabamos de aprender o falecimento do Abbé Pierre, plebiscitado pelos Franceses, depois de Zinédine Zidane ( !!!), como sendo a figura mais estimada da França. Uma aposta para um padre católico !  A audiência era muito mais importante do que  a de qualquer bispo – ou até cardeal- francês. A acção dele a favor dos pobres é evidente ? No entanto, e principalmente por ser padre (« ser » porque « é » sacerdote para sempre), as trombetas da reputação são muito mal embocadas. »

Lembrava eu então as declarações do Abbé Pierre a favor da homoparentalidade (mas não da homosexualidade), da contracepção, do casamento dos padres, do sacerdócio das mulheres, mas contra a obrigação da Eucaristia dominical, contra o dogma da Imaculada Conceição e da Assunção da Virgem Maria, contra o Santo Padre e o modo como ele dirige a Igreja. Tudo isso em nome da caridade. « Julgamento severo » replicaram alguns. « Nem tanto como os deles », respondi. Julgamento a contratempo, está certo. Pois, não ouvi muitas vozes  a pôr um bemol ao concerto dos louvores. Só no fim da semana tive conhecimento dum aviso parecido com o meu :

« Uma tendência à deconfessionalização não protegeu a própria obra do Abbé Pierre. Sem querer emitir julgamento definitivo sobre isso, seja-nos permitido sublinhar, na hora da disparição do apóstolo moderno da caridade, que o humanitarismo, por honrável que seja, não toma necessariamente a medida mais ultima do homem, e que, apesar de tudo, o futuro tirará sempre na Revelação o sentido mais determinante da eminente dignidade dos pobres, uma vez que está ligada  intimamente à caridade dum Deus vivo » (Gérard Leclerc)

Vários cristãos de França, muito empenhados no anúncio do Evangelho, por se sentirem mais ou menos marginalizados, alegram-se da popularidade do Abbé Pierre, e deploram o conteúdo do meu artigo. Assim, alguém escreve-me, num correio electrónico :

« Hoje em dia, é costume entre os medias ‘inchar curas’, de todas as maneiras : todos os pretextos são bons. Enquanto temos uma figura católica –mediática – que tem boa fama… »

Isso é verdade : a Igreja não tem « boa fama ». Quando os medias fingem fazer uma excepção a favor duma figura estimada por eles « carismática », a tentação é grande, então, de seguir o movimento. Não seremos então vítimas da nostalgia dum certo triunfalismo, apesar do que Jesus nos deixa entrever ?

« Aí de vós quando todos os homens disserem bem de vós : foi assim que os pais deles trataram os falsos profetas » (Lc 6, 26)

E, no trecho do evangelho de hoje :
« Nenhum profeta é bem recebido no seu país »

Jesus é categórico : NENHUM. Quão é duro ouvir isso ! Para os habitantes de Nazaré, o que era duro, era acreditar que a salvação não era só para si, mas também para « a multidão », para os paganos também. Para nós, o que é duro, é que a salvação, que é para a multidão, só seja acolhida por uma menoridade. Os habitantes de Nazaré teriam gostado de ter o monopólio de Jesus. Nós, gostavamos que todo o mundo dê palmas aquando da sua passagem. A menoridade nunca está a moda, uma vez que a moda é precisamente fazer ( e ser) « como toda a gente ». Ah ! se de repente, por meio dum milagre qualquer, as multidões de hoje gritassem : « Bendito o que vem em nome do Senhor », em vez de : « Crucifica-O, crucifica-O »… Se, dum dia para outro os medias entoassem um hino em honra da Igreja Católica, como fizeram para o Abbé Pierre… Não é proibido desejar isso e rezar por isso. Mas era precso ver se o seu « Bendito aquele que vem » fosse motivado pelo acolhimento da salvação do pecado, ou pela ambição do benefício do consumidor. Pois, isso é muito conhecido : a religião, isso é que faz vender,… como as nádegas !

O Cardeal Newman, escrevia :
« Todo o conteúdo das Sagradas Escrituras, pois, leva-nos a crer que a sua verdade (a de Cristo) não receberá acolhimento caloroso pela maioria das pessoas, uma vez que vai contra a opinião pública e dos sentimentos partilhados por todos ; mesmo que fosse bem acolhida por um homem, seria recusada por aquilo que fica nele da sua natura antiga, exactamente como é recusada por todos os outros homens que não a acolheram. « A luz que resplendece nas trevas » (Jo 1,5) é sinal da religião verdadeira.

A última parte dessa citação lembra-nos que os primeiros a quem isso diz respeito, somos nós. Jesus é sempre posto na menoria, não só pela multidão dos homens, mas também no mais íntimo daqueles a quem se chama « fiéis », e pelo « homem velho » em cada um de nós. Por isso é que temos de desconfiar tanto dos nossos entusiasmos pessoais para com Jesus (que Jesus ? o dos nossos sonhos, ou aquele « que é, que era e que vem » ?) como que do entusiasmo efémero do povo… Cito Newman, mais uma vez :

« Mesmo que, sem dúvida, haja momentos em que um entusiasmo repentino jorra a fovor da verdade, uma popularidade destas não dura muito : acontece de repente e desaparece logo a seguir ; não conhece crescimento progressivo, nem duradouro. Só o erro cresce e é generosamente acolhido por um grande numero… Com efeito, a verdade tem um poder tão grande que pode obrigar o homem a proclamá-la em palavras ; mas quando este se prepara a agir, em vez de obedecer à verdade, substitui-a por um ídolo qualquer ».Segue então um trecho que se podia dizer de maneira textual a propósito daquilo que temos vivido em França depois da morte do Abbé Pierre, nestes últimos dias :

« Por conseguinte, num país, quando se fala muito em religião, quando se alegra por todo o mundo se ocupar dela, um espírito suficientemente sabio ficará inquieto por saber se, por acaso, não seriam a honrar qualquer substituto na vez dela ; se não são as ilusões do homen mais do que a verdade da palavra de Deus, que fazem nascer uma popularidade destas ; se a forma acolhida não tem como única verdade o que pode ser aceite pela razão e pela consiência ; em sumo, se não é Satanás tornado Anjo de Luz, em vez da própria Luz, que cria tantos discípulos. »

Newman, não é de admirar, era também um profeta cuja caridade foi desprezada. De qualquer maneira, Jesus, que veio para dar uma casa a todos os « SDF » (a do Pai), pão a todos os famintos (o da Palavra, da Eucaristia e da Vontade do Pai), a liberdade a todos os presos que somos (a liberdade interior dos filhos de Deus), aquele Jesus, os seus levaram-no « até à cima dum escarpamento da colina onde estaá construida a cidade, afim de o deitar abaixo ». Aquele Jesus, muitos exegetas de hoje reduzem-no ao Cristo da fé, mera invenção piedosa.


« No fim da nossa vida seremos julgados sobre o amor » (S. João da Cruz), repete-se muitas vezes. Mas de que amor é que se trata ? Com certeza que não se trata dum amor sem Jesus, nem dum amor contra a Igreja. (Porque será que um bispo, conhecido também ele, como não-conformista, se permitiu acusar a Igreja de tentar « recuperar » o Abbé Pierre quando falaceu ?) A caridade,devemo-la primeiro aos pobres que são Jesus e a Igreja, a sua Esposa. Todo o que poderemos fazer contra Ele e contra a Esposa dele, faremo-lo contra a caridade. Todo o que faremos sem Jesus e sem a Esposa dele é condenado a desaparecer, antes da fé da esperança até.

Na Igreja antiga, notava Bento XVI, a palavra « ortodoxia » não significava, de maneira alguma, a doutrina justa, mas autêntica adoração e glorificação de Deus ». E continua assim :
« Tinham a convicção de que tudo dependia do facto de ser justo na relação com Deus, de conhecer o que lhe agrada e como se pode responder de maneira justa. Por isso foi que Israel respeitou a Lei : ela mostrava a vontade de Deus ; indicava como viver com rectidão e como honrar a Deus de maneira justa : cumprindo a sua vontade, que faz reinar a ordem no mundo, abrindo-o à transcendência. Tratava-se de alegria nova dos cristãos que, a partir de Cristo, sabiam finalmente como é que Deus deve ser glorificado e como, deste modo, o mundo se torna justo. Durante a santa noite, os anjos tinham anunciado que as duas coisas andavam juntas : « Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade », foram as palavras deles (Lc 2,14). A glória de Deus e a paz na terra são inseparáveis. No lugar donde Deus é excluido, a paz esboroa-se na terra, e nenhuma ortopraxia sem Deus nos pode salvar. »

Ao ouvir as palavras do Evangelho de hoje, logo a seguir às de S.Paulo no seu hino à caridade, não se pode deixar de fazer uma pergunta difícil : porquê será que o Amor não é amado (S.Fr. de Assis) ? É pecisamente porque todo quanto se faz em nome do amor não é amor, mas só aparência de amor. É necessariamente porque todo o que é realmente feito em nome do amor não é reconhecido como sendo  amor.

Mais uma pergunta a qual não se escapa é esta : porquê o Amor será tão difícil a amar, porquê haverá tão pouca gente capaz de amar, e sobretudo : porquê será que nós próprios o amamos tão pouco ? Não será porque é difícil admitir que, até em nome do amor, deitamos para fora e precipitamos para baixo aquele que só tem o poder de nos abrir as portas da Casa do Pai ? No entanto, aqui está a Boa Nova : « Que sentido a palavra escrita : ‘A pedra rejeitada pelos construtores tornou-se pedra angular’ ? » (Lc 20,17)
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