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Praedicatho homélies à temps et à contretemps

Praedicatho homélies à temps et à contretemps

C'est par la folie de la prédication que Dieu a jugé bon de sauver ceux qui croient. Devant Dieu, et devant le Christ Jésus qui va juger les vivants et les morts, je t’en conjure, au nom de sa Manifestation et de son Règne : proclame la Parole, interviens à temps et à contretemps, dénonce le mal, fais des reproches, encourage, toujours avec patience et souci d’instruire. Crédit peintures: B. Lopez


ANO NOVO : PIOS VOTOS ?

Publié par Walter Covens sur 3 Janvier 2007, 16:21pm

Catégories : #homilias em português

    Uma semana depois do Natal, logo a seguir à Festa da Sagrada Família, neste 1° de Janeiro de 2007, estamos mais uma vez reunidos junto ao Presépio. Já por ocasião do Natal e novamente para o Ano Novo (até ao dia 31 de Janeiro, dizem) temos a oportunidade de oferecer os nossos votos aos de quem gostamos … mais ou menos … sinceramente … mais ou menos. Os homens políticos e de Igreja, o banco onde temos depositado as nossas pequenas poupanças, os jornalistas e os animadores de programas televisuais, todos querem cantar-nos a mesma « canção ». Os votos, até os « melhores » não custam nada, a não ser um postal e um selo ( e cada vez menos nesta era da Internet).Fazem esforços enormes para inventar frases bonitas, com muitos adjectivos, superlativos : una autêntica inflação, um fogo de artifício, tais como aquele que temos visto à meia-noite, mas mais barato ! Como dizia o cardeal Martini, numa homilia de Natal :

« Falamos em votos sinceros, cordiais, muito cordiais mesmo, ardentes, muito ferventes : os superlativos manifestam a fraqueza das emoções, a distãncia entre as palavras e os sentimentos que queriamos realmente comunicar. Formulamos lindíssimos votos de saúde, de paz, de felicidade, mas acontece que as palavras manifestam a consciência que temos do caracter efémero daquelas lindas palavras . Afinal, temos a impressão embaraçosa de estar num formalismo vázio. Então perguntamos para nós mesmos donde vem aquela tensão, típica das grandes celebrações, entre a vontade ansiosa de formular votos e exprimir sentimentos poderosos, e ao contrário, a timidez, talvez o medo que nos faz duvidar da sinceridade ou até da cortesia das nossas fórmulas. »

    Fala-se mesmo de… « pios votos » . Esses são votos sem esperança. Nos votos que dirige este ano às « suas ovelhas» Dom MÉRANVILLE, o arcebispo da Martínica, encontramos ecos do que dizia o bispo emérito de MILÃO, em 1990 :
« No princípio do Novo Ano de 2007, trocamos os nossos votos. Não é só para seguir os costumes. Pois, além do seu formalismo, essses votos exprimem sobretudo o nosso desejo de sermos felizes. E porque ignoramos o que vai ser o ano que começa, queremos deste modo, por assim dizer, afastar sortes. Sabemos muito bem que os votos não têm eficácia mágica. Não basta exprimi-los para que se realizem. No entanto, ao exprimi-los eles agem um pouco como o método « Coué » e ficam com um autêntoco poder de auto-sugestão. »

    Temos ouvido o mesmo arcebispo ontém à noite, na TV, repetir as mesmas palavras. E quando ele escreve aos padres, é mesma coisa :
« Aqueles votos e desejos repetidos todos os anos podem assemelhar-se a simples formalidades. Tanto mais que, ano após ano, em vez de melhorar, as coisas e a vida parecem andar cada vez pior. A contagião do derrotismo e a tentação de baixar os braços estão à nossa porta »

    Realmente, aquelas duas analises são muito pessimistas, a respeito do costume de trocar os nossos votos por ocasião do Natal e do Ano Novo ! Mas não as devemos rejeitar muito facilmente. Devemos ter a coragem suficiente para as acolher serenamente afim de aproveitar os ensinamentos delas. Tenhamos « a coragem de ter medo » (M.D. Molinié) . Aquele medo que tentamos , de maneira muito desastrosa, quase irrisória, exorcismar pelos nossos votos, não o neguemos, não fugamos dele. Olhemos para ele face a face ! É verdade : somos « uma geração traumatizada por tantos choques », tantas incertezas. Hoje, a mortificação mais necessária e mais salutar para nós, não é a mortificação da carne por meio de cilícios, flagelações… é sim a mortificação da confiança, do abandono entre as mãos da Divina Providência.

    A Virgem Maria e São José, quando nasceu Jesus, suportaram com certeza muitas privações : o frio… a fome… Mas o mais difícil, o mais exigente para eles foi o abandono ao Pai. Maria tornou-se Mãe de Deus ao dizer « Sim » na Anunciação, mas aquele « sim », quantas vezes teve que o repetir, ao longo do caminho estreito e íngreme da vontade de Deus ao longo da sua vida ?

    São Franciso de Sales, chamado com razão « Doutor do abandono », repara no comportamento do próprio Jesus, uma escola de abandono cristão. Esse abandono não é só o abandono muçulmano, nem sequer a resignação de Job no Antigo Testamento. É o abandono de quem está baptizado no Sangue de Jesus. No dia 1 de Janeiro de 1931 (tinha então 28 anos, e ficava paralisada desde a adolescência, encarquilhada no seu pequeno sofá) Marthe ROBIN mandava escrever no seu jornal íntimo :
« O que é que me prepara este ano novo ? Não sei e não quero saber »
(Se toda a gente falasse assim, era o fim dos horóscopos e daquelas mulheres que pretendem prever o futuro !)
...Abandono-me ao socorro que nunca me faltou. O meu primeiro pensamento é um grito do coração : ‘Meu Deus, bendito sejais em tudo quanto me pedis ; eu aceito tudo, gosto de tudo. Aquele que é a Força ajudará, envolverá a minha fraqueza. O que importa é não querer nada e aceitar tudo, não pedir nada, amar tudo. É o meu « sim » cada dia renovado… É a ascenção dolorosa mas alegre, sem paragem nem marcha para trás… É o amor cada vez mais exposto ao sol do Amor divino. (…) Abandono-me com toda a simplicidade e amor a Jesus misericordioso. Ele sabe melhor do que eu todas as minhas necessidades e tudo quanto Ele precisa. Que isso baste para mim. Nada lastimar, daquilo que foi ou não foi ; nada é inútil, tudo serve para alguma coisa. Eu bendigo e bendirei o meu Deus por tudo o que eu sou, por tudo quanto fiz ou, melhor, por tudo quanto Ele fez por meio de mim… por mim. »

    Fala-se muito hoje em dia de « empenhamento ». Dizem : « É preciso empenhar-se ... o cristão tem que se empenhar ». Ora, escreve o padre Molinié, um Padre Dominicano, bastante idoso :
« A única maneira conveniente de chamar ao empenhamento não é cantar os louvores do empenhamento, mas os daquilo pelo que se empenha. (…) O verdadeiro empenhado não fala no seu empenhamento, mas fala, isso sim, da Realidade que merece o seu empenhamento (…) Aqueles que se agarram à natureza humana, ao que fica bom e sólido no homem, apoiam-se, ao meu ver, na areia. A geração actual conhece tantas dúvidas, tanto desánimo, tanto transtorno em tudo quanto parecia o mais sólido, que, no ponto de vista humano, já não há salvação possível. O equilíbrio nervoso tornou-se tão fraco ! Ja não sabem o que quer dizer a fidelidade à palavra dada, a uma promessa…

É estéril deplorar isso todo. Se amassemos realmente Jesus Cristo, ficariamos alegres por não ter soluções, mas só Ele, o Salvador. Essa é a boa maneira de ser moderno, não há outra. Mesmo que se deixem enganar por miragens, os jovens pedem realidades. Ora, a única realidade que nós possamos lhes oferecer é o amor de Deus. Quando não se pode fazer mais nada humanamente, essa é única coisa que possamos dar. Se não a tivermos, não temos nada, merecemos ser varridos e pisados. É verdade perante os moribundos, os doentes, os prisoneiros, que perderam tudo, dos desesperados em geral.. É verdade, afinal, para a geração actual. Se quisermos ser « actuais », não nos devemos agarrar aos valores humanos que se desmonoram, mesmo que sejam bons. (…)

Jovens ou velhos, se não formos para o Salvador e sua graça, já não temos mais nada. É sempre errado agarrar-se a valores humanos, mas joje em dia , isso é mortal porque se desmonoram. A pior maneira de ser « do seu tempo » é ser humanista. Ha épocas em que isso é possível, em que não é catastrófico. Finalmente é um bom caminho começar por amar o homem na sua verdade, para se erguer pouco a pouco em direcção ao Reino. Mas hoje, pode ser um sonho perigoso pois dispensa procurar o verdadeiro remédio. Essa geração desequilibrada não será « humana » : será divina ou demoníaca, sobrenatural ou decomposta.

    Eis uma opinião que não se ouve todos os dias, e muito menos num primeiro de Janeiro. São palavras vigorosas que sacodem. Mas queria dizê-lhas hoje. Confio-as à intercessão da Mãe de Deus que é também nossa Mãe. A vocação sacerdotal é dar Jesus como só ele se pode dar. Mas não é a única maneira. Maria não era sacerdote. José também não. Deram Jesus, mais nada, e cumpriram o seu dever de esposo e de esposa, de pai, de mãe, de carpinteiro , de dona de casa, fielmente, até ao fim.

    Então, pela intercessão deles, com toda a Igreja, rezemos e peçamos a Deus, não como o mundo : « primeiro a saude », mas sim, como a liturgia nos ensina : a fidelidade ao Evangelho :

« Deus, que és a vida sem princípio nem fim,
nós te confiamos este ano novo ;
Fica connosco até ao seu fim :
Que ele seja para nós, mediante a tua graça, um tempo de felicidade,
E mais ainda, um tempo de fidelidade ao Evangelho »
(Oração da missa « para começar o ano »)
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