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Publié par Walter Covens

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    Na minha homilia do domingo passado, quando temos meditado no episódio das Bodas de Caná, tive a oportunidade de insistir no carácter ao mesmo tempo histórico e simbólico do evangelho de João. Hoje, no Prólogo do seu evangelho, S. Lucas manifesta a mesma vontade de pecisão histórica, como o lembra também no princípio dos Actos dos Apóstolos (Ac 1, 1) :

« Caro Teófilo, no meu primeiro livro, falei em tudo quanto Jesus fez e ensinou desde o princípio… »

    S. João escreve de manieira idêntica  (1 Jn 1, 1-3) :
« O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos contemplado com os nossos próprios olhos, o que temos visto e que as nossas mãos tocaram, é o Verbo, a Palavra da vida. Sim, a vida manifestou-se, temo-la contemplado, e somos testemunhas : anunciamo-vos aquela vida eterna que estava junto do Pai e que se manifestou a nós. O que temos contemplado, o que temos ouvido, anunciamo-lo também a vós… »

    A nossa fé cristã está baseada sobre factos históricos, e não sobre fábulas, mitos, sobre História e não  sobre « histórias !

« O Verbo fez-se carne e habitou entre nós » (Jo, 1,14).

    A diferença entre João e Lucas é esta : João é testemunha ocular. S.Lucas não o é, mas « informou-se cuidadosamente de tudo desdes as origens », junto « dos que foram, desde o princípio, as testemunhas oculares et se  tornaram servidores da Palavra » afim de que todos possam «  verificar a firmeza dos ensinamentos » recebidos. S. Mateus é o éco da pregação de S. Pedro.

    Se é necessário insistir no carácter histórico do Evangelho de S.Lucas, e dos outros três, é porque disso depende a firmeza da nossa fé. Hoje em dia, é costume opor o « Jesus da fé » ao « Jesus da História ». O « Jesus da fé » não teria nada a ver (ou quase nada) com o « Jesus da História », do qual se pretende que não se possa conhecer muita coisa. O « Jesus da Fé », ele, fica estrangeiro à toda a espécie de ciência, e portanto a toda qualquer credibilidade, dizem.

    Aquela oposição é perigosa, pois provoca a ruína da fé cristã. Conforme uma sondagem, a metade dos Franceses têm a convicção de que a própria existência de Jesus é duvidosa, enquanto que é muito bem atestada. De nenhuma personagem da Antiquidade temos documentação histórica tão abundante. No entanto, há duvidas sobre a existência de Jesus, mas ninguém teria a mínima dúvida acerca da existência de Júlio César. Esse facto deixa-nos a sonhar, mas não é um mero acaso. É mesmo o resultado das numerosas tentativas de destruir a fé, através de « best-sellers » que se seguem por dezenas desde o fim do século 18 até hoje. Pensemos no recente « Da Vinci Code »…

    O cúmulo aparece quando a fé dos crentes se deixa arrastar pela crítica dos descrentes, como se, em vez de chamar especialistas para estimar o valor artístico duma pintura ou duma composição musical, pedissem o aviso de pessoas cegas ou mudas. Os Evangelhos foram escritos por crentes para crentes, portanto um mínimo de fé é necessário para os perceber.

« As dúvidas passam. O Evangelho fica » (R.Laurentin)

    Hoje, as palavras do princípio de Evangelho de S.Lucas são portanto mais importantes do que nunca. Se nos esquecermos delas ou se não fizermos caso delas, a nossa fé cristã já não têm alicerces firmes e há-de desabar mais tarde ou mais cedo.

Issso é, pois, muito importante : a nossa religião não é só mais uma « ideologia », isso é : uma sistematização, cada vez mais contestável, de ideias, talvez muito bonitas ; já no princípio há factos, espantosos mas devidamente verificados e atestados – os evangelhos todos darão a prova disso - : é a vida, a morte, e a ressurreição de Cristo. Todo o « cristianismo » nunca haverá-de fazer outra coisa, a não ser tirar diso as consequências. (A.Feuillet)

    Para perceber isso, é bom ter uma ideia bastante precisa da maneira como que os Evangelhos chegaram até nós.

1. À partida há Jesus, os acontecimentos da vida dele. Não se trata de ideologia, mas de factos, inscritos na História. Esses factos realizaram-se « entre nós » : não por S.Lucas pertencer ao grupo dos amigos de Jesus, mas porque, quando escreveu o seu « Prólogo », ainda havia discípulos vivos.
2. A seguir, há o testemunho dos Apóstolos. Daqueles acontecimentos os Apóstolos foram testemunhas « oculares », não às escondidas, como quem passa depressa, ma sim « desde o princípio », isso é a partir do Baptismo até à Ressurreição.
3. Por causa disso, aqueles que viram tornaram-se « servidores da Palavra », logo a seguir ao Pentecostes : é a « passagem » do « ver » ao « dizer ». Essa passagem é muitíssimo lógica, uma vez que o Jesus que viram é o Verbo Encarnado. Por isso é que Origenes haverá-de dizer :

« Está escrito no Êxodo : ‘ O Povo via a voz de Deus ». Evidentemente que a Voz é ouvida antes de ser vista ; mas isso foi escrito para nos mostrar que, para ver a Voz de Deus, é preciso ter outros olhos ; podem vé-la aqueles a quem isso é dado. No evangelho de S. Lucas, já não é a Voz que é vista, mas sim a Palavra : « os que viram, e foram servidores da Palavra ». Ora, a Palavra é mais do que a Voz. Os Apóstolos portanto viram a Palavra : não por ter visto o corpo do Senhor Salvador, mas sim por ter visto o Verbo.
Se se tratasse só de matéria, Pilatos teria visto a Palavra, e Judas também, e todos quantos gritavam : « Crucifica-o ! ». Ver a Palavra de Deus, o Salvador explica o que é : « Aquele que me vê, também vê o Pai que me enviou ».

4.Estando a Tradição cristã firmemente ligada por essa Palavra dos Apóstolos ao próprio Cristo-Verbo, o papel dela é « transmitir » o que recebeu das testemunhas oculares. E o primeiro trabalho neste sentido é   « escrever sobre isso um relato coerente ». Aqui também, está tudo muito lógico, uma vez que o objecto desta composição são os acontecimentos da vida e da morte de Jesus. O « valor acrescentado », se se pode falar assim, é a composição », a procura da unidade entre fragmentos diversos, o  que, conforme o que diz S.Lucas, já tinha sido efectuado por alguns antes dele.
5.Aquela tradição da Palavra de Deus, encarnada em Jesus Cristo, repetida pelos Apóstolos, há-de encontrar a sua « com-posição » acabada pelo trabalho dos quatro Evangelistas. S.Lucas confia-nos qual foi o seu método : está baseado sobre uma informação « cuidadosa » (« ácribos », de que os péritos tiraram « acribia » para qualificar uma precisão científica !) « de tudo », portanto tão completa como possível, « desde as origens », isso é ,antes do Baptismo, a sua infância. Para isso, S.Lucas vai buscar nas fontes, não só nos « relatos coerentes » já redigidos por outros antes dele, mas também« nas testemunhas oculares », « os servidores da Palavra » que conseguiu encontrar, inclusivamente a Virgem Maria e demais membros da « família de Jesus »…. Tudo isso « para ti, caro Teófilo », o que significa : « para todos os futuros discípulos de Cristo, afim de que percebamos todos a firmeza dos ensinamentos (da catequese - essa é a palavra grega usada por S.Lucas) recebidos.

    O que digo foi confirmado pelas pesquisas de 150 anos de exegese encarniçada acerca da formação dos Evangelhos. Temos portanto que louvar alto e forte, contra ventos e marés, os louvores da autenticidade daqueles escritos essenciais para a nossa fé !

Mas o argumento mais convincente a favor da veracidade histórica fundamental dos Evangelhos fica a experiência que fazemos ; nós próprios, cada vez que somos tocados profundamente por uma palavra de Cristo. « Terá havido alguma palavra, antiga ou nova, que tivesse um poder destes ? » (R. Cantalamessa)


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