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Praedicatho homélies à temps et à contretemps

Praedicatho homélies à temps et à contretemps

C'est par la folie de la prédication que Dieu a jugé bon de sauver ceux qui croient. Devant Dieu, et devant le Christ Jésus qui va juger les vivants et les morts, je t’en conjure, au nom de sa Manifestation et de son Règne : proclame la Parole, interviens à temps et à contretemps, dénonce le mal, fais des reproches, encourage, toujours avec patience et souci d’instruire. Crédit peintures: B. Lopez


UM EVANGELHO PARA UMA CATEQUESE SEGURA (Lc, 1, 1-4 ; 4, 14-21)

Publié par Walter Covens sur 23 Janvier 2016, 22:17pm

Catégories : #homilias em português

3 TOC ev
    Na minha homilia do domingo passado, quando temos meditado no episódio das Bodas de Caná, tive a oportunidade de insistir no carácter ao mesmo tempo histórico e simbólico do evangelho de João. Hoje, no Prólogo do seu evangelho, S. Lucas manifesta a mesma vontade de pecisão histórica, como o lembra também no princípio dos Actos dos Apóstolos (Ac 1, 1) :

« Caro Teófilo, no meu primeiro livro, falei em tudo quanto Jesus fez e ensinou desde o princípio… »

    S. João escreve de manieira idêntica  (1 Jn 1, 1-3) :
« O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos contemplado com os nossos próprios olhos, o que temos visto e que as nossas mãos tocaram, é o Verbo, a Palavra da vida. Sim, a vida manifestou-se, temo-la contemplado, e somos testemunhas : anunciamo-vos aquela vida eterna que estava junto do Pai e que se manifestou a nós. O que temos contemplado, o que temos ouvido, anunciamo-lo também a vós… »

    A nossa fé cristã está baseada sobre factos históricos, e não sobre fábulas, mitos, sobre História e não  sobre « histórias !

« O Verbo fez-se carne e habitou entre nós » (Jo, 1,14).

    A diferença entre João e Lucas é esta : João é testemunha ocular. S.Lucas não o é, mas « informou-se cuidadosamente de tudo desdes as origens », junto « dos que foram, desde o princípio, as testemunhas oculares et se  tornaram servidores da Palavra » afim de que todos possam «  verificar a firmeza dos ensinamentos » recebidos. S. Mateus é o éco da pregação de S. Pedro.

    Se é necessário insistir no carácter histórico do Evangelho de S.Lucas, e dos outros três, é porque disso depende a firmeza da nossa fé. Hoje em dia, é costume opor o « Jesus da fé » ao « Jesus da História ». O « Jesus da fé » não teria nada a ver (ou quase nada) com o « Jesus da História », do qual se pretende que não se possa conhecer muita coisa. O « Jesus da Fé », ele, fica estrangeiro à toda a espécie de ciência, e portanto a toda qualquer credibilidade, dizem.

    Aquela oposição é perigosa, pois provoca a ruína da fé cristã. Conforme uma sondagem, a metade dos Franceses têm a convicção de que a própria existência de Jesus é duvidosa, enquanto que é muito bem atestada. De nenhuma personagem da Antiquidade temos documentação histórica tão abundante. No entanto, há duvidas sobre a existência de Jesus, mas ninguém teria a mínima dúvida acerca da existência de Júlio César. Esse facto deixa-nos a sonhar, mas não é um mero acaso. É mesmo o resultado das numerosas tentativas de destruir a fé, através de « best-sellers » que se seguem por dezenas desde o fim do século 18 até hoje. Pensemos no recente « Da Vinci Code »…

    O cúmulo aparece quando a fé dos crentes se deixa arrastar pela crítica dos descrentes, como se, em vez de chamar especialistas para estimar o valor artístico duma pintura ou duma composição musical, pedissem o aviso de pessoas cegas ou mudas. Os Evangelhos foram escritos por crentes para crentes, portanto um mínimo de fé é necessário para os perceber.

« As dúvidas passam. O Evangelho fica » (R.Laurentin)

    Hoje, as palavras do princípio de Evangelho de S.Lucas são portanto mais importantes do que nunca. Se nos esquecermos delas ou se não fizermos caso delas, a nossa fé cristã já não têm alicerces firmes e há-de desabar mais tarde ou mais cedo.

Issso é, pois, muito importante : a nossa religião não é só mais uma « ideologia », isso é : uma sistematização, cada vez mais contestável, de ideias, talvez muito bonitas ; já no princípio há factos, espantosos mas devidamente verificados e atestados – os evangelhos todos darão a prova disso - : é a vida, a morte, e a ressurreição de Cristo. Todo o « cristianismo » nunca haverá-de fazer outra coisa, a não ser tirar diso as consequências. (A.Feuillet)

    Para perceber isso, é bom ter uma ideia bastante precisa da maneira como que os Evangelhos chegaram até nós.

1. À partida há Jesus, os acontecimentos da vida dele. Não se trata de ideologia, mas de factos, inscritos na História. Esses factos realizaram-se « entre nós » : não por S.Lucas pertencer ao grupo dos amigos de Jesus, mas porque, quando escreveu o seu « Prólogo », ainda havia discípulos vivos.
2. A seguir, há o testemunho dos Apóstolos. Daqueles acontecimentos os Apóstolos foram testemunhas « oculares », não às escondidas, como quem passa depressa, ma sim « desde o princípio », isso é a partir do Baptismo até à Ressurreição.
3. Por causa disso, aqueles que viram tornaram-se « servidores da Palavra », logo a seguir ao Pentecostes : é a « passagem » do « ver » ao « dizer ». Essa passagem é muitíssimo lógica, uma vez que o Jesus que viram é o Verbo Encarnado. Por isso é que Origenes haverá-de dizer :

« Está escrito no Êxodo : ‘ O Povo via a voz de Deus ». Evidentemente que a Voz é ouvida antes de ser vista ; mas isso foi escrito para nos mostrar que, para ver a Voz de Deus, é preciso ter outros olhos ; podem vé-la aqueles a quem isso é dado. No evangelho de S. Lucas, já não é a Voz que é vista, mas sim a Palavra : « os que viram, e foram servidores da Palavra ». Ora, a Palavra é mais do que a Voz. Os Apóstolos portanto viram a Palavra : não por ter visto o corpo do Senhor Salvador, mas sim por ter visto o Verbo.
Se se tratasse só de matéria, Pilatos teria visto a Palavra, e Judas também, e todos quantos gritavam : « Crucifica-o ! ». Ver a Palavra de Deus, o Salvador explica o que é : « Aquele que me vê, também vê o Pai que me enviou ».

4.Estando a Tradição cristã firmemente ligada por essa Palavra dos Apóstolos ao próprio Cristo-Verbo, o papel dela é « transmitir » o que recebeu das testemunhas oculares. E o primeiro trabalho neste sentido é   « escrever sobre isso um relato coerente ». Aqui também, está tudo muito lógico, uma vez que o objecto desta composição são os acontecimentos da vida e da morte de Jesus. O « valor acrescentado », se se pode falar assim, é a composição », a procura da unidade entre fragmentos diversos, o  que, conforme o que diz S.Lucas, já tinha sido efectuado por alguns antes dele.
5.Aquela tradição da Palavra de Deus, encarnada em Jesus Cristo, repetida pelos Apóstolos, há-de encontrar a sua « com-posição » acabada pelo trabalho dos quatro Evangelistas. S.Lucas confia-nos qual foi o seu método : está baseado sobre uma informação « cuidadosa » (« ácribos », de que os péritos tiraram « acribia » para qualificar uma precisão científica !) « de tudo », portanto tão completa como possível, « desde as origens », isso é ,antes do Baptismo, a sua infância. Para isso, S.Lucas vai buscar nas fontes, não só nos « relatos coerentes » já redigidos por outros antes dele, mas também« nas testemunhas oculares », « os servidores da Palavra » que conseguiu encontrar, inclusivamente a Virgem Maria e demais membros da « família de Jesus »…. Tudo isso « para ti, caro Teófilo », o que significa : « para todos os futuros discípulos de Cristo, afim de que percebamos todos a firmeza dos ensinamentos (da catequese - essa é a palavra grega usada por S.Lucas) recebidos.

    O que digo foi confirmado pelas pesquisas de 150 anos de exegese encarniçada acerca da formação dos Evangelhos. Temos portanto que louvar alto e forte, contra ventos e marés, os louvores da autenticidade daqueles escritos essenciais para a nossa fé !

Mas o argumento mais convincente a favor da veracidade histórica fundamental dos Evangelhos fica a experiência que fazemos ; nós próprios, cada vez que somos tocados profundamente por uma palavra de Cristo. « Terá havido alguma palavra, antiga ou nova, que tivesse um poder destes ? » (R. Cantalamessa)


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