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Praedicatho homélies à temps et à contretemps

Praedicatho homélies à temps et à contretemps

C'est par la folie de la prédication que Dieu a jugé bon de sauver ceux qui croient. Devant Dieu, et devant le Christ Jésus qui va juger les vivants et les morts, je t’en conjure, au nom de sa Manifestation et de son Règne : proclame la Parole, interviens à temps et à contretemps, dénonce le mal, fais des reproches, encourage, toujours avec patience et souci d’instruire. Crédit peintures: B. Lopez


ESPERANÇA LOUCA (Lc 21, 25… 36)

Publié par Walter Covens sur 28 Novembre 2015, 10:36am

Catégories : #homilias em português

1 Avent C 1lec
    Já estamos no tempo do Advento, princípio dum novo ano litúrgico. O Evangelho desse princípio do ano parece-se muito com o do fim do ano anterior (33° domingo B). Pois, ele pertence também aos « apocalipses sinópticos. O texto de S. Lucas é aquele que melhor faz a distinção entre o que diz respeito à Destruição de Jerusalém e a Parusia. Como toda a literatura apocalíptica da Bíblia ele é um convite à esperança, à esperança contra toda a esperança, pois é uma esperança dentro dum tempo de provas, de subversões, uma esperança que não está baseada sobre sinais de renovação, de melhoração, de alívio, mas só sobre a promessa de Deus. Por isso é que a esperança está simbolizada pela âncora (cf. He 6, 19). A âncora é aquilo que impede o návio ser apanhado pelas águas andar sem governo. A esperança é aquele virtude teologal que o Senhor nos deixa para podermos ficar firmamente agarrados na terra firme das suas promessas no meio das tempestades do mundo.

    Ora, qual é essa promessa ? É uma promessa de felicidade, de felicidade infinita, de felicidade perfeita. É aquela que nos lembra a primeira Leitura : « Estão a chegar dias em que cumprirei a promessa de felicidade que fiz à casa de Israel e à casa de Judá ». Não é o Pofeta quem o diz, é mesmo a « Palavra do Senhor ». Aquela « Palavra do Senhor » é uma « palavra boa ». Portanto é uma boa nova, um evangelho.

    Qual é a felicidade prometida por Deus, a promessa que o Senhor há-de cumprir ? Não é uma felicidade pequena, de pacotilha. É a promessa que o Senhor fez a David por intermédio de Natã : « Quando a tua vida acabar e descansares junto dos teus pais, eu dar-te-ei um sucessor na tua descendência, nascido de ti, e tornarei estável a sua realeza » (2 S 7, 12) Essa certeza é penhor de felicidade, pois a realeza havia-de trazer ao povo a certeza duma protecção contra os inimigos (« Jerusalém ficará segura »), e portanto certeza de paz, de prosperidade, de justiça. É mesmo a certeza de felicidade duradoura : « A tua casa e a tua realeza ficarão sempre diante de Mim, o teu trono ficara estável para sempre » (2 S 7, 16)

    Ora, os sucessores de David, e o próprio David, nunca conseguiram verdadeiramente realizar aquela promessa do Senhor, e a esperança do povo foi abalada quando os reis sucessivos, em vez de estabelecer o reino da paz e da justiça, fizeram « o que é mal aos olhos do Senhor », e por isso levaram o povo até à ruína. Na primeira leitura da missa, quando o Senhor renova solenemente a sua promessa, não só nenhum rei tinha corespondido a essa esperança, ao « retrato-robot » do rei ideal, mas já não havia rei ! O reino que David tinha deixado a Salomão, o seu filho e sucessor, tinha sido dividido : « a casa de Israel » e « a casa de Judá » : Judá e Israel já eram irmãos inimigos. O Povo estava cada vez mais desiludido. A promessa do Senhor parecia cada vez mais fictícia, irreal, a  felicidade prometida cada vez mais longinqua e utópica.


    Naquelas condições, como era possível ficar sem dúvidas ? Como era possível não criticar todos quantos tinham anunciado « palavras boas » dizendo : « Palavra do Senhor » ? Como era possível não querer mal ao Deus que, desde havia séculos tinha feito aquelas promessas tão bonitas, aparentemente nunca cumpridas ? A primeira resposta é esta : para o Senhor, « mil anos são como que um dia ! » (Ps 90,4 ). Um século, para Deus, é só uma hora ! A seguir, não é Deus que não cumpre as suas promessas, são os homens. Deus faz promessas no quadro duma Aliança. Portanto, deve haver reciprocidade. Por isso é que, quando os homens o criticam, Deus responde : « Serei eu que seja duro para convosco ? Não sereis vós que sejais duros para comigo ? » (cf.Ml 3,13). Quando os homens dizem de Deus : « O procedimento de Deus é estranho », o Senhor responde que o que é estranho é o comportamento dos homens (cf. Ez 18, 25 ;29). Quando, aos olhos dos homens Deus parece tardar, não é Ele que é lento, os homens são quem tardam. Deus, por sua parte, é paciente e oferece o tempo para se converter (2 P 3,9)

    Nós sabemos, pelo menos teoricamente, que Deus cumpriu em Jesus todas as suas promessas (cf. 2 Co  1, 20). Ora, o que é que acontece ? No mesmo momento em que Jesus vem, não para abolir mas sim para cumprir, muitos dentro do povo e dos chefes rejeitam-no. Encontramos aqui, mais uma vez o terrível paradoxo da vida com Deus. No domingo de Cristo, Rei do Universo,o Evangelho mostra-nos um Cristo julgado e condenado por Pilatos, um rei coroado de espinhos, um rei crucificado ! É aquele Rei, descendente de David, que vem cumprir as promessas. Ora, ninguém o quer acolher… Pelo contrário, no momento em que o povo queria levar Jesus à força para o fazer Rei (porque acabava de lhes dar pão à fartura, Jesus tinha fugido para evitar os fastos da coroação.

    É no contexto da Paixão que Jesus dá o seu testemunho supremo da Verdade da sua realeza. A Verdade, é esse o objecto da nossa fé. A fé é uma certeza, mas uma certeza que não deixa de encontrar obstáculos, uma vez que não é a certeza evidente duma verdade conforme as medidas da nossa natureza humana ; é,sim, a certeza da Verdade na noite, da Verdade dos pensametos de Deus que estão muito acima do céu e da terra. (cf. Is 55, 9) A fé implica portanto uma espera, a espera duma contemplação face a face duma verdade muito grande para a nossa pobre inteligência, enquanto estamos na terra.

    A esperança também é uma espera. Mas enquanto que na fé esperamos pelo encontro com a Verdade suprema que não podemos contemplar aqui em baxo, com a esperança estamos à espera da possessão da plenitude do bem,da felicidade que não podemos gozar aqui. É mesmo uma coisa louca pela qual esperamos : o encontro com o bem Supremo, com o próprio Deus, o único que possa satisfazer o nosso  desejo e que estará todo em todos (cf. 1 Co 15, 28) Só o amor infinito e todo-poderoso de Deus pode satisfazer todos os desejos de todas as criaturas, dos anjos e dos homens. Então aderimos a Deus já não como Princípio de Luz, mas também como Princípio beatificante capaz de matar a sede duma felicidade muito grande para o meu pobre coração, a sede de felicidade de todas as suas criaturas.

    Aquela espera ultrapassa as nossas capacidades humanas. Os homens podem esperar com um amor humano uma felicidade humana, um mundo melhor ; não podem esperar com uma esperança teologal sem o auxílio de Deus. Podemos cantar com Guy BEART :

É a esperança louca
Que dança e voa
Por cima dos tectos,
Das casas e das praças.
A terra é baixa :
Eu voo para ti.

Tudo está alcançado de antemão ;
Eu começo novamente,
Subo de pés nus
Até ao cimo dos montes,mastros de cocanha
Dos céus desconhecidos

    Mas quais são esses montes desconhecidos ? Guy Béart é natural do Libano. Viveu no Libano, durante uma grade parte de sua juventude ; foi là uma primeira vez, no ano de 1989, à procura do túmulo do seu pai… Não teve tempo para procurar. Era a guerra. Ele próprio conta como escreveu mais uma canção : « Livre Libano ».

Ao regresar da praça dos Mártires, encontrei um companheiro de infância. O pai dele vendia instrumentos de música quand ele tinha 7 anos e eu 12. Tratava sempre de música. Ajudou-me para reunir crianças e adolescentes libaneses no bairro de Dora, devastado, aniquilado, mas menos perigoso hoje do que a Praça dos Canhões ; esse bairro parece-se com um apocalipse de ciência-ficção com os prédios em ruínas, os seus canos de petróleo queimados, torcidos. Alecco HABIB, cantor e músico libanês, emprestou-me a sua guitarra. E Jacques LUSSAN , « kiné », poeta e cantor que me tinha feito a amizade de me acompanhar naquela aventura, realizou, mediante o meu velho gravador, a gravação desse grupo coral improvisado.

Eis algumas palavras dessa canção :

Levantemos o verde da esperança,
O verde do cedro libanês,
O branco do leite da nascença,
O vermelho do sangue dos vivos.

Levantemos o verde da esperança !
Juntos, em toda a parte, melhor do que dantes,
Reunidos para o renascimento
Do mundo em paz pelos seus filhos.

Libano livre
Livre Libano

    Passaram 17 anos… Sabeis o que se seguiu : os acontecimentos dos últimos meses, dos últimos dias. E não acabou, de certeza. Ora, podeis verificar isto : nestas condições, humanamente, tendes que cair no desespero. Mas se tiverdes a força da graça,, podereis fazer o que Jesus diz no Evangelho : « Quando começarem esses acontecimentos, erguei-vos e levantai a cabeça, pois a vossa redenção está próxima, enquanto que « os homens morrerão de medo por causa das infelicidades a caír sobre o mundo »

    Mas se o vosso coração se tornar pesado « na desordem, na embriaguez e nos cuidados da vida », se não rezardes « todo o tempo », não podereis resistir. Não podereis fugir. Não quer dizer que, se rezardes, não virá infelicidade alguma : essa ainda é uma espera humana. « Pão e jogos » : não é isso que Jesus promete. Sucessos a aplausos também não. Se eu vos prometesse no meu « blog »um meio certo para ganhar no proximo « Tiercé » - versão moderna da multiplicação dos pães, mas só para alguns « felizes »( ?) – com certeza que encontraria um sucesso enorme. Não,pelo contrário, aos que rezam e o seguem Jesus anuncia perseguições, que os outros não conhecerão. Por isso é que não quis ser proclamado Messias antes da Páscoa, afim de preservar os seus discípulos daquelas perigosas ilusões. Isso nem sempre bastou. O perigo que vós fugireis é o de perder a fé e de caír no desespero. Fugireis o perigo de olhr para os falsos profetas que vos oferecerão paraísos ilusórios ;fugireis o perigo de vos olhar a vós mesmos como Messias.

    Guy Béart dizia : « Temos todos, agora, que tentar comportar-nos como se fossemos, durante alguns minutos, alguns segundos, o Messias, porque o planeta inteiro está em perigo ». Isto teria o significado de que Jesus teria que deixar , alguns momentos, de ser o Messias… Não, direis vós : « O Senhor é a nossa justiça ».

    Caso contemos com as nossas próprias forças para salvar o mundo, já estamos perdidos. A Paz de Deus não é o resultado dos nossos esforços. A Paz de Deus é o próprio Deus, tal como se dá àquele que aceita dar-lhe lugar para o acolher. Oferecer-lhe lugar , isto significa também estar dispostos a ver desaparecer as nossas esperas de felicidade humana, para que a felicidade de Deus possa ocupar toto o espaço. Bom Advento !


(tradução : G.Jeuge)
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