Mas João Paulo II pediu-nos para aprender a respirar com os nossos dois pulmões : o ocidental e o oriental . Ele próprio mostrou o caminho ao convidar-nos para nos emprenharmos muitas vezes da graça daquela realidade pela meditação do 4° mistério luminoso do Rosário.
  Não é só para imitar os cristãos orientais e também não só por odediência ao Sto Padre que temos de seguir rapida- e amorosamente Jesus na montanha. É antes de mais nada por fidelidade às Escrituras. Como podiamos deixar de ser tocados pela importância do relato feito pelos três evangelhos sinópticos ? A Transfiguração aparece, não só como que um intervalo bemvindo no trabalho apostólico. Ela tem também uma importância excepcional que tornou alegres todos quantos se deixaram atrair pela sua luz.
  S.Marco é quem mostra a Transfiguração da maneira mais radical, como que um momento muito importante na vida pública de Jesus : depois da profissão de fé de Pedro, Jesus anuncia aos seus discípulos, pela primeira vez, os seus futuros sofrimentos, bem como a necessidade da renuncia por quem se quer tornar verdadeiro discípulo seu. A seguir vem o relato da Transfiguração, seguido pela cura duma criança epiléptica e pelo 2° anúncio da Paixão. Em resumo, é aquele que há-de se desfigurado pela dor quem é transfigurado na glória.
  Aqui também não esqueçamos a herança de João Paulo II que deixou o ícone da Transfiguração como uma espécie de prenda a todas as pessoas consagradas, notando que a Transfiguração não é só uma revelação da glória de Cristo, mas também uma preparação para aceitarmos a Sua Cruz (" Vita consagrata ", 14)
  Se a riqueza dos três relatos da Transfiguração já é tão deslumbrante que não deixa de embaraçar os melhores exegetas ( ?), como se poderá falar da experiência feita por Pedro, Tiago et João . e tantos outros depois deles ? E se a 2a Carta de Pedro nos diz : " Têm razão de fixar a vossa atenção na palavra (dos Profetas) como que numa lâmpada acesa na escuridão " quanto mais teremos razão de a fixar hoje no evangelho ! Contentaremo-nos modestamente de fixar a nossa atenção nos elementos próprios de S. Marco.
  Enquanto S.Mateus acentua a voz do Céu (sinal de que acabou o tempo de ser discípulo de Moisés, de Elias e de todos os demais profetas, uma vez que chegou o tempo de escutar Jesus) Enquanto S. Lucas acentua a nuvem (sinal da presença divna e da sua glória) S.Marco acentua a pessoa de Jesus, o Messias, cuja Transfiguração na presença dos três discípulos é , por assim dizer, o prelúdio e o penhor da futura ressurreição. Mesmo que queiramos ficar na tenda da presença transfigurante de Jesus, aquela presença é incompreensível e estamos cheios de temor e de incompreensão : " (Pedro) não sabia o que havia-de dizer, por causa do medo que tinham todos ". S.Marco usará das mesmas palavras para descrever a reacção daqueles discípulos no Monte das Oliveiras (Mc 14,40) Da mesma maneira, só S.Marco é quem nota : " Ninguém na terra pode realizar uma brancura destas ". Achamos que Marco quer dizer : " Sejamos indulgentes frente à incompreensão dos 3 discípulos, pois o que viram ultrapassa tudo quanto costumamos ver ; nunca antes alguém tinha visto aquilo : foram os primeiros ! "
  Também só S.Marco repara no fim : " De repente, olhando à volta deles, não viram mais ninguém a não ser Jesus, sozinho com eles ".
  Afinal, " guardaram fielmente a ordem (de não falar a ninguém do que tinham visto ), mas pensavam interiormente no que queria dizer " resuscitar dentre os mortos "
  Sem dúvida, é por causa das particularidades de S.Marco que seu relato (como o da Paixão) é aquele que mais nos comove. Frente à tanta luz, ficamos como que " estúpidos ". O temor de Pedro, Tiago e João torna-se nosso, está bem assim. Já seremos capazes de ser curados duma doença que nos pode atingir a todos : a de ser tão habituados a ouvir o evangelho que já nem sabemos quem estamos a escutar ; a de dizer " Jesus é Senhor " enquanto que nem sabemos o que dizemos ; a de ir à misa " para nos desembaraçar do Bom Deus " como dizia o Sto Cura de Ars ; a de comungar sem nos lembrar de quem recebemos afinal, a de viver sem saber porquê e para quem vivemos
  Harvey Cox escreveu mais ou menos isto : " Nós, cristãos, temos tanto delipidado a herança da escatologia cristã que já só vemos com um olhar extinto um Jesus ao olhar extinto "
  Um inquériro realizado nos E.U.A entre 2001 e 2005 junto de adolescentes e dos pais deles revelou que a suposta educação cristã transmitida pelos pais aos filhos já não passa dum deismo vago e moralizador, do estilo : " Se não fores obediente, Jesus vai castigar-te "
  Então, tomemos bem depressa o remédio indicado pelo salmo : " Quem ólha para Ele resplandecerá sem sombra nem perturbação na cara Provai e vede como o Senhor é bom ! Feliz o homem que fica ao abrigo dEle ".
  Um olhar demorado para um ícone da Transfiguração (ou outro), um tempo de adoração do Santíssimo Sacramento, uma dezena do Terço com meditação do evangelho : esses são tantos remédios contra aquela doença que hoje em dia mata tanta gente, quando não deixa os feridos desfigurados.