Cuidado ! O Pentecostes não é a festa do Espírito Santo ! também não há festa do Pai e o Natal não é festa de Jesus ! Pois, todas as festas cristãs são trinitárias. A nossa profissão de fé é trinitária. Depois de proclamar que cremos no Pai Todo Poderoso, no Seu Filho Jesus Cristo Nosso Senhor, dizemos : " Creio no Espírito Santo ". Portanto, o Espírito Santo é uma Pessoa divina, exactamente como o Pai e o Filho são Pessoas divinas.Para falar no Espírito Santo precisamos de imagens. Ainda têm, com certeza, algumas recordações do catecismo= fala-se em vento, fogo, luz, água, pomba, unção, selo Mas todos esses símbolos podem fazer com que o Espírito Santo seja percebido como que um fluido,, uma irradiação, uma onda positiva, como se diz. O mais importante não é o falar mas o viver. O símbolo leva à reflexão, mas por cima de tudo leva à acção. O uso dos símbolos não tem sentido a não ser para quem vive deles.
  O Espírito Santo não se deixa descrever a quem não tem fé, a quem não vive da sua fé. Querer falar do Espírito Santo a quem não tem fé ( ou a quem a perdeu), era como que tentar explicar o que é um beijo a quem nunca fez a experiência dum beijo. Ora, precisamente, para evocar o Espírito Santo usa-se também do beijo. Não somos, acho eu, como aqueles de quem falam os " Actos dos Apóstolos " que tinham recebido o baptismo de João em Éfeso mas ainda não tinham ouvido falar no Espírito Santo (cf.Ac 19,2). Nós temos ouvido falar do Espírito, mas viveremos do Espírito ? Fazemos uma expriência da vida no Espírito ? A propósito do beijo, alguém escreveu : " Não se trata de conjugar sempre o verbo " amar ", de " berrar " a palavra " amor " O amor é pobreza e dependência, dom e acolhimento. Eu acolho o teu sopro e dou-te o meu. O que quer dizer : eu acolho a tua alma e dou-te a minha ; o sopro mútuo é símbolo disso ; dali a beleza do beijo. É por isso que o beijo não se deve estragar nem prostituir para brincar com ele. Essas são coisas que era preciso dizer em matéria de sexualidade. É muito lindo, o beijo : é troca, acolhimento, dom É todo o Evangelho " (F.Varillon).
  É todo o Evangelho pelo motivo que é todo o Espírito Santo. Também era bom dizer : não se deve " balir " o Espírito Santo, não deve ser utilizado de maneira vulgar. Aqueles que estão sempre a falar do Espírito Santo mas fazem seja o que for, só têm uma fé de " fachada ", uma espiritualidade de " castanhola ", como dizia alguém.. Esses estragam, eles prostituem o Espírito Santo como outros estragam, prostituem o beijo. Temos que viver no Espírito Santo como que um peixe na agua. Como pode ser ? Com risco de parecer trivial, vou dizer : " Pedem-me como nadar, como enxugar a louça ? Deitai-vos na água, peguei num esfregão e comecai ! Será melhor se terdes junto de vós um treinador de natação (ou uma mãe) para vos dar conselhos e vos ajudar na aprendizagem ". Para nos ensinar a vida no Espírito Santo não ficamos abandonados, nunca ! Não somos orfãos, diz S.João(cf.Jo 14,18). Possuimos o Espírito Santo, e também a Igreja : " À própria Igreja foi confiado o Dom de Deus ( ) Nela foi depositada a comunhão com Cristo, isso é : o Espírito Santo, penhor da incorruptibilidade, confirmação da nossa fé, escala da nossa ascenção em direcção a Deus ; onde está o Espírito de Deus, cá está a Igreja e toda a graça " (Sto Ireneu).
  Para receber o Espírito Santo, como é que se deve fazer ? Já o temos recebido mas é preciso desempacotar a prenda. Aliás, só temos começado a recebê-lo ; nunca teremos acabado. Na Igreja, aquele lugar onde fica " toda a graça ", rezamos sempre : " Vem, Santo Espírito ! ". Jesus diz : " Pedi, e recebereis quem pede recebe Vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos : quanto mais o Pai celeste dará o Espírito Santo a quem lhe pedir ! " (Lc 11,9 013)
  No Evangelho, vemos Jesus a rezar. Jesus vive no Espírito, e quando reza, reza no Espírito Santo e pede o Espírito Santo por nós. E o Espírito Santo toma a oração de Jesus e da-la-nos. Já temos qualificado isso de " Boa Nova da oração cristã ". Podeis agora pensar nisto : depois da Ascenção, os discìpulos estão a rezar no Cenáculo, no próprio local onde Jesus rezou e instituiu a Eucaristia. Acreditaram na Boa Nova da oração cristã. Ainda não eram santos, não ! mas já tinham começado a receber o Espírito Santo no dia da Páscoa, cinquenta dias antes (cf. Jo 20,22). Agora rezam em Igreja. " Num só coração participavam fielmente na oração, juntamente com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e os irmãos dele " (Ac 1,14)
  S.Lucas diz logo a seguir que " naqueles dias, os irmãos estavam reunidos, mais ou menos 120 " (v.15). Depois chega a escolha de Matias para ocupar o lugar de Judás. Aquela escolha realiza-se na oração : " A assembleia rezou assim "(v.24) . No princípio do capítulo 2 : " Quando chegou o Pentecostes, estavam reunidos, todos juntos (v.1). Naquela altura é que recebem mais uma infusão do Espírito Santo. Então, experimentam o Espírito Santo : depois de fazer a expeiência do seu pecado e do perdão do Senhor, fizeram a experiência da oração em Igreja. Antes discutiam entre si para saber qual dentre eles era o maior (cf.Lc 22,24). Agora, confessam a sua miséria : todos iguais, todos fracos mas todos unidos, " já têm um só coração ". REZAM EM IGREJA.
  Quando recolhemos até no nosso quarto, quando rezamos no segredo, temos que rezar em Igreja. Sto Agostinho dizia : " Se quereis receber O Espírito Santo, praticai a caridade, amai a verdade, desejai a unidade ". Lembrai-vos bem disto : não só a nossa indigência nos leva a pedir esmolas. Pior ainda : somos mendigos que não sabem mendigar ! Tão grande é a nossa miséria ! Mas quando o Espírito Santo, " o Pai dos pobres ", nos dá a oração de Jesus na fé, então já não somos só indivíduos colocados ao lado uns dos outros. Então, a união a nossa união com Jesus e a união entre nós faz a nossa força. Somos todos unidos num só Corpo, cuja cabeça é Jesus, e cujos membros somos nós. " Ao Espírito de Cristo como que a um princípio escondido é que se deve atribuir o facto de que todas as partes do Corpo estejam unidas, tanto entre si como à sua Cabeça suprema, uma vez que Ele reside inteiro na Cabeça, inteiro no Corpo, inteiro em cada membro " (Pio XII, Enc. Mystici Corporis). Isso não é só uma solidaraiedade humana. Tentar realizar a universidade da Igreja e a caridade no mundo em nome duma solidariedade meramente humana, ignorando a acção do Espírito Santo, é por assim dizer, edificar outra vez uma " torre de Babel ". É o comunismo, é a União Europeia que rejeita as suas raizes cristãs, é Amnesty Internacional que pretende defender os direitos humanos, tomando agora a defesa do aborto, etc Isto não significa que o Espírito não actue fora das fronteiras visíveis da Igreja. Aliás, a Igreja reza também por isso ! Mas isto quer dizer que um cristão tem que ser realmente cristão. A solidariedade só não é o monopólio dos cristãos. Quando agimos só por solidariedade, não fazemos mais do que os pagãos e publicanos (cf. Mt 5,46-47). Se fosse suficiente, não valia a pena Jesus vir no mundo para nos dar o Espírito Santo. Não ! " Uma vez que o Espírito Santo nos faz viver, deixemo-nos conduzir por Ele " diz S.Paulo (Ga 5,25). Só o Espírito Santo é " Princípio de qualquer acção vital e salvífica em cada qual das partes do Corpo " (Pio XII, id.). Pois bem ! Aquela solidariedade entre o Pai e o Filho, também é a solidariedade entre Jesus e sua Igreja. É isso que nos lembra ainda Sto Agostinho : " Eis Cristo Total, Cabeça e Corpo, um só feito de muitos. ( ) Quando fala a Cebeça, quando falam os membros, Cristo é quem fala. Fala no seu papel de Cabeça, fala no papel de Corpo. Conforme o que está escrito : " Serão dois numa só carne. Este é um grande mistério, quero dizer : em relação à Cristo e a Igreja .(cf. Ef 5,31-32). E o próprio Senhor, no evangelho : " Já não são dois, mas uma só carne " (Mt 19,6). Assim como já vimos, de facto são realmente 2 pessoas diferentes ; no entanto, tornam-se um só no acto conjugal ( eis o beijo ) Porque é Cabeça diz-se " esposo ", porque é Corpo diz-se esposa " (Sto Agostinho)
  Solidariedade conjugal, fonte e modelo de todas as solidariedades. Aqui está a única solidariedade capaz de salvar o mundo, e temos de acolhê-la na nossa pobreza, para depois praticá-la juntos. É mesmo isso de que devemos testemunhar, durante toda a nossa vida. Nunca terá fim, pois continua depois da morte. É a solidariedade entre a Igreja do Céu, a da terra, a do purgatório. Está unida com os que viveram antes de nós e com os que viverão depois. Realmente é uma solidariedade sem fronteiras, sem limites. É mesmo o Dom de Deus. Ninguém poderá dizer : " Sou eu quem a criou ". " Se soubesse o dom de Deus, se conhecesse aquele que te pede : " Da-me de beber ", és tu quem lhe terias pedido, e ele ter-te-ia dado água viva ". (Jo 4,10). " Se alguém está com sede, venha a mim, e beba quem acredita em mim ! Como diz a Escritura : Rios de água brotarão do seu coração. Ao dizer isso, falava do Espírito Santo que haviam-de receber aqueles que acreditariam em Jesus " (Jo 7337-38