
Esse é mais um motivo para estudarmos mais a fundo o sentido autêntico da solenidade da festa de Todos os Santos, afim de não deixar perder o seu valor em relação a comemoração dos fiéis defuntos que chega no dia seguinte, 2 de Novembro. Está em questão a vitalidade da nossa fé. Não nos deixemos contaminar e manipular por forças escuras, mas contaminemos o mundo pela nossa fé ! Ora, a nossa fé é esta : CREIO NA SANTA IGREJA CATÓLICA. Mas, o que creio no fundo do meu coração, tenho também de fazer todo o possível para o comprender com a minha inteligência. A fé nunca é uma coisa evidente. É sim uma prova. O que seremos ainda não aparece claramente, diz S.João. É precisamente aqui que intervem a fé. A Santa Igreja não é uma Igreja sem pecadores. « Não vim para os sãos e os justos, mas sim para os doentes e os pecadores », disse Jesus. Acabamos de o confessar no princípio da missa : somos todos pecadores. Se fosse preciso ser santo antes de ser cristão, isso não faria sentido. Somos cristãos para nos tornarmos santos.
Então, estais a ver a pergnta que temos de fazer todos para nós mesmos : eu, pobre pecador, poderei tornar-me santo (santa) ? Se por acaso digo que sou cristão, mas que não me quero tornar santo, é com certeza porque há mais um problema, pior do que o próprio pecado. Quando digo que não sou pecador, há um problema, porque digo que Deus é um mentiroso. Mas, sabendo que sou pecador, apesar de pertencer à Igreja, se não quero ser santo, também há um problema. É por isso que Jesus conta a parábola do trigo e do joio. O joio, não são os pecadores, são os pecadores que não se querem tornar santos. Jesus diz assim : « Deixai-os crescer juntos até à messe, e no tempo da messe, eu direi aos trabalhadores : tirai primeiro o joio, ligai-o, queimai-o ; quanto ao trigo, ponde-o no celeiro » (Mt 13,30). Portanto, nós, membros da Igreja, somos todos pecadores.
Mas na Igreja não há só pecadores. Nós, cristãos, não é o pecado que nos torna membros da Igreja ; é sim a nossa caminhada em direcção à santidade, na graça do nosso baptismo e da nossa confirmação. Mediante esses sacramentos temos recebido um selo, um selo que o pecado nunca apagará. Enquanto fico na fé do meu baptismo, mesmo que peque por fraqueza, ainda pertenço à Igreja, mas se levar uma vida honrosa sem fé, então já não serei mais cristão. No momento da Comunhão, vou dizer esta oração admirável : « Senhor, não olhais aos meus pecados mas à fé da Vossa Igreja »… O Concílio de Trento disse assim :aqueles que dizem que um cristão em estado de pecado mortal já não pertence à Igreja são condenáveis… Mas, se tenho a fé, não vou dizer que tive razão em cometer o pecado que fiz.
S.Paulo escreve aos Efésios : « Cristo amou a Igreja, entregou-se por Ela ; pois queria que fosse santa graças à purificação do baptismo e a palavra de Vida ; queria apresentá-la a si mesmo, aquela Igreja, resplandecente, sem mancha, nem ruga, nem defeito algum ; queria que fosse santa e irreprensível. Essa é a Igreja que saí do baptismo. S.Paulo sabe muito bem que há pecadores na Igreja. Aos Coríntios censura coisas gravíssimas. No entanto, diz que que a Igreja é santa. Ela está sem pecado, mas não sem pecadores. Teólogos belgas disseram isto : Está certo, a Igreja é santa em alguns dos seus membros, mas é pecadora em outros. Da mesma maneira como se diz que Antuérpia é rica ! (o porto, os diamantes…) mesmo que haja muitos pobres. da mesma maneira como se diz que Lovaina é sábia por causa da sua Universidade, mesmo que haja muitos ignorantes, assim se dirá que a Igreja é santa, mesmo que possua nela muitos pecadores . Não !Em todos os membros da Igreja, enquanto não abandonaram a fé, enquanto ainda têm a fé, há uma santidade. Aquela fé não chegará para os santificar, mas eles sempre pertencem à Igreja. A Igreja não abandona os pecadores. Ela é como que uma mãe que tem uma criança muito doente : enquanto a criança fica viva, a mãe não a abandona. Quando morre, já não a guarda nos braços.
Mas é prociso que a criança queira ficar junto da sua mãe. PÉGUY, num texto muito lindo, diz assim : O que é um cristão ? Um cristão é um pobre pecador, mas que toma a mão. E os Santos, os que celebramos hoje, quem são ? Os santos são aqueles que estendem a mão. Péguy diz : se tomardes a mão estendida, sois cristãos. Caso contrário, não sois cristãos. Isto quer dizer que a nossa santificação não vem dum esforço feito por nós, por admirável que seja. A nossa santificação vem duma mendicidade. Para sermos santos temos que mendigar. Todos os Santos foram mendigos. Mais mendigaram e mais receberam. Mais receberam, mais se sentiram dependentes da misericórdia de Deus.
Então, não julguemos a Igreja a partir daquilo que não é. É o que nos diz Jacques MARITAIN : « Os católicos não são o catolicismo. As culpas, os pesos, as carências e os sonos dos católicos não comprometem o catolicismo. O catolicismo não tem missão para dar uma desculpa às faltas dos católicos. A melhor apologética não consiste em justificar os católicos quando não têm razão, mas pelo contrário em marcar os erros, quando não danificam a substância do catolicismo et só mostram a força duma religião sempre viva, apesar deles. A Igreja é um mistério. Tem a cabeça escondida no Céu, a sua visibilidade não se manifesta nitidamente. Se procureis o que a representa melhor, olhai para o Papa e os Bispos a ensinar a fé e os deveres ; olhai para os Santos do Céu e da terra ; não olheis para nós pecadores, ou, de preferência, olhai para o procedimento da Igreja para curar as nossas pragas e para nos guiar pouco a pouco até à vida eterna. A grande glória da Igreja é ser santa com membros pecadores. »
Enquanto sou pobre pecador, tenho então de saber que há Santos para me ajudar, não só os do Céu, mas também os da terra. Então neste dia bonito de « Todos os santos », olhemos para o Céu, e não nos esquecemos de olhar também para a terra. Um bispo suiço, D.Charrière, que tinha ido de peregrinação a Ars, tinha lá encontrado um padre velhíssimo que tinha conhecido o Santo Cura de Ars . O bispo pediu ao padre se a santidade do Cura de Ars tinha sido reconhecida enquanto vivia. – Ô não, tinha respondido ; diziam que era um original. Assim aconteceu com Sta Bernardete de Lurdes e Sta Teresinha de Lisieux. Há tantos santos e tantas santas que nos estendem a mão, e não a tomamos, equanto que pecisamos tanto dela, porque não os conhecemos. Até os perseguimos : « felizes sereis si vos insultarem, se vos perseguirem e se dizerem mentiras contra vós, por causa de Mim… »
Peçamos ao Espírito Santo que abra os nossos olhos afim de que possamos ver e respeitar a santidade da Igreja, a dos Santos, está certo, mas também a que fica em cada um de nós.
(tradução : Pe G.Jeuge)