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Publié par Walter Covens

 
       Com o evangelho de S.Marcos, chegamos hoje a uma étapa na caminhada da fé enquanto resposta à pergunta : " Afinal, quem é Jesus ? ".

       A resposta. Não basta recitá-la só com os lábios . Lembrai-vos : " Aquele povo honra-me com os lábios, mas o coração dele fica longe de mim (Mc 7,6). Não é só a recitação mecánica duma fórmula, mas sim o coração duma vida dada que o Senhor espera de nós. Daí a importância da precisão na resposta de Jesus, na segunda parte do evangelho deste domingo.

       Gosto muito da maneira usada por S.Marcos para começar o seu Evangelho, maneira muito rápida, muito incisiva, por assim dizer " sobre as chavetas de rodas " (como dizem os Franceses !), ou ainda em " pole-position " conforme a expressão usada nas corridas de carros. Encontramos, pois logo no 1° versículo : " Princípio da Boa Nova de Jesus Cristo, o Filho de Deus ". Rivalizar com o Ralph Schumacher no circuito de " Formula 1 " isso não é ao alcance de todos… Mas crer como S.Marcos, isso é um dom de Deus para todos. Com a condição de se lembrar de que a fé é como a Bíblia (cf.homilia : " O Evangelho, fresco ou em conserva " : ela não pode ser recortada em pedaços pequenos, e quem quiser fazer assim já não perceberá mais nada. A fé tem de se aceitar ou recusar. Não é a conclusão dum raciocínio, nem o resultado dum inquérito de opinião. Não é um assunto para discutir ; não há negociação possível. Como tratamos o Senhor ? Ele vem para nos salvar, e nós, mergulhados no pecado, haviamos-de lhe impôr condições e negociações, como aqueles seminaristas que, num elo repentino de zelo intelectual tinham organizado uma discussão sobre os anjos, para chegarem à conclusão que não existiam ?

       No fim do seu evangelho, S.Marcos mostra-nos a fé do centurião como sendo o modelo da fé cristã : " Realmente, aquele homem era o Filho de Deus ! " (15,39). Este homem era pagão… Ora, ao ver Jesus a morer na Cruz, ele faz a sua profissão de fé. Admirável !

       No entanto, no capítulo 8, a fé dos Doze, daqueles que estavam com Jesus desde havia já bastante tempo, esta fé proclamada por Simão Pedro no evangelho de hoje, ainda não chegou a este ponto. S.Marcos mostra-nos uma caminhada, um itinerário com étapas sucessivas. Mas essa caminhada é differente da caminhada do povo, bem como dos opositores de Jesus (Herodes, os fariseus, os escribas) .

       Todos são confrontados com uma pergunta que os inquieta, que é inevitável : Quem é Jesus ? Essa pergunta já é feita no capítulo 6(14-16) : " Como o nome de Jesus tornava-se célebre, o rei Herodes ouviu falar nele. Diziam : " É João Baptista : ressuscitou dentre os mortos… por isso é que tem o poder de fazer milagres ". Outros diziam : " É o Profeta Elias ". Outros ainda : " É um Profeta como os de outrora ". Herodes ouvia essas palavras e dizia : " Aquele a quem mandei cortar a cabeça, João, eis que ressuscitou ! "

       Nessas palavras, reonheceis com certeza a resposta à primeira pergunta de Jesus no evangelho de hoje (cap.8) . Isso é que qualificamos de " inclusão " : " A inclusão semítica é um procedimento literário pelo qual uma ideia idêntica é exprimida com fórmulas muito semelhantes, no princípio e no fim de um (ou vários) trecho(s) ; assim fica evidente o princípio e o fim duma unidade literária " (H. Van de Busssche). Mediante este procedimento da inclusão, S.Marcos dá a perceber que essa é mesma a pergunta esencial que se pode fazer naquela " secção dos pães. Ao contrário das opiniões comuns, a fé de Pedro e dos Doze não é uma fé que brota como que um géiser (a fé do centurião), mas sim uma fé que cresce lentamente, por étapas sucessivas.

       Assim, encontramos, na boca de Jesus, algumas expressões significativas :, como estas :

- Escutai-me todos e percebei bem…. (7,14) ;
- Tendes olhos e não olhais, tendes orelhas e não escutais ? Não vos lembrais ? … (8,18) ;
- Ainda não percebeis ? … (8,21) ;

       Aquelas incompreensões têm afinal as suas raízes nos corações :

- Ainda não tinham percebido o significado do milagre dos pães : o coração deles estava obcecado … (6,52)
- Aquele povo honra-me com os lábios, mas o seu coração fica longe de mim … (7,6)
- Portanto, também vós sois incapazes de perceber ? (7,18)
- É de dentro, do coração do homem, que saem os pensamentos perversos … (7,21) ;
- Porquê é que discutais sobre esta falta de pão ? Não vedes ? Ainda não percebeis ? O vosso coração ainda está obcecado ? ;;; (8,17)

       Aquele lentidão de alguns na caminhada da fé , este endurecimento também, esta recusa de acreditar da parte de outros, todas aquelas atitudes, S.Marcos as apresenta como que uma espécie de espelho no qual os cristãos da sua comunidade de Roma se podiam reconhecer… um espelho no qual também nos podemos nos olhar a nós mesmos, na medida em que aceitamos um exame sério do nosso coração. Nesta perspectiva, deixai que vos faça três pergunatas.

       1a – Aquele Jesus que encontro na Eucaristia do domingo, quem é ? Quem é para os homens ? Quem é para mim : o mesmo, ou alguém totalmente único ? Ou seja : a minha fé em Jesus-Eucaristia será ou não totalmente diferente des ideias comuns , na moda do tempo actual ? … ainda que não seja já perfeita.

       2a – Qual é a minha caminhada na fé ? Essa fé estará a crescer, lentamente talvez mas certamente ? Ou tornar-se-á cada vez mais morna e diluida, só " dos lábios " ?

       3a – O que é que faço eu para crescer na " inteligência da fé "?

       Não creio na medida em que comprendo, claro ; pois essa medida é muito estreita para Deus. Era mais exacto dizer que eu comprendo na medida em que creio. Com efeito compreender não é nada contrário à dignidade do homem ! Não agir conforme a razão, isso é que é contrario à natureza de Deus. Foi mesmo isso que Bento XVI acaba de lembrar durante a sua viagem na Baviera.

       Reparastes que essa viagem não chamou muito o interesse dos " medias " - uma vez que era bem recebido, não tinha nada de interessante ! – até ao momento em que teve a audâcia de falar na verdade do cristianismo, baseado na fé, mas na fé que não exclui a razão, ao contrário do Islão, o qual, por esse motivo, é mais acessível à tentação de usar da violência para converter os " descrentres ".

       A fé cristã tem a sua origem no Oriente, mas só conseguiu desenvolver-se graças ao encontro com a filosofia grega. O Papa citou Théodore Khoury, theólogo em Münster, quem publicou uma parte do diálogo entre o imperador bizantino Michel Paléologue com um Persa culto acerca do cristianismo e do Islão, e sobre a verdade de cada qual, no fim do século XIV. Neste contexto, Khoury cita uma obra do célebre islamólogo francês R.Arnaldez ; esse explica que Ibn Hazn declara que Deus não está ligado pela sua própria palavra e que nada o podia obrigar a dizer-nos a verdade. Se Ele quisesse, o homem deveria praticar até a idolatria.

       Conforme esta apresentação de fé do Islão, nada de Deus se pode comprender. Temos que crer, e mais nada. Ora, essa visão da fé, não só Bento XVI nunca disse que era a de todos os muçulmanos, mas acrescentou que ela se conseguiu infiltrar na fé cristã. Bento XVI reparou que no fim da Idade Média e até hoje, através da Reforma protestante e das Luzes, algumas tendências se desenvolveram na teologia católica, de maneira a romper a síntese do espírito grego e do cristão. (Aqui o Papa acrescenta – longamente - então que a Igreja sempre defendeu uma analogia entre Deus e o homem, entre o Espírito criador e a nossa razão criada)

       … Aquela parte do discurso não chamou a atençõ dos ouvintes, evidentemente… No entanto , é essa que nos diz mais respeito a cada um de nós. Todas estas reflexões parecem possivelmente muito longe da nossa fé de cada dia. Mas não é verdade Pois aquela tendência de querer recusar o carácter razoável da fé infiltrou-se na mente de muitos, até sem eles dar por isso.

       Quando se diz : " Creio em Deus, mas não sei Deus ", o que já li eu recentemente escrito por uma senhora que se apresenta como católica praticante empenhada num movimento de Igreja, então vai-se bem depressa para um divórcio entre fé e razão, sem medir as consequências desastrosas. Uma dessas consequências é esta : já não há base firme para dar testemunho da sua fé num diálogo inter-religioso sereno. Chega-se a pensar que Deus poderá fazer o trabalho em tempo oportuno, que basta fiar-se nele, e tudo isso em nome da caridade cristã, na qual a instituição da Igreja católica não percebeu absolutamente nada. " Frente ao error, a primeira caridade é dizer a verdade " dizia alguém ainda não contaminado pelo " virus " do fideismo. Também é isso que se diz numa oração conhecida, (atribuida por erro a S.Francisco de Assis), usada na Liturgia das Horas : " Qunado se instala o erro, possamos proclamar a verdade "

       Na 2a parte do evangelho, Jesus, que disse a Pilatos : " Eu nasci, e vim no mundo para isto : dar testemunho à verdade. Quem pertence à verdade escuta a minha voz (Jo 18,37) ", aquele Jesus lembra-nos que isso só é possível com a condição de dar a sua vida. " Tu és o Messias " dizia Pedro. " Nós proclamamos um Messias cucificado, escândalo para os Judeus, loucura para os pagãos ", precisa S.Paulo (1 Co 1,23). É mesmo o que faz o Papa. E é isso que somos todos chamados a fazer com ele.


 

(Tradução : G.Jeuge)
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