Os Atos dos Apóstolos nos falam hoje a respeito da vida da Igreja primitiva, há dois mil anos atras. A fé
cristã estava sendo disseminada em toda a bacia do Mediterrâneo, em primeiro lugar nas comunidades judaicas. São Lucas pinta o retrato de uma comunidade de crentes vivos e entusiastas, de
cristãos que estão cientes da necessidade de compartilhar com o máximo possível de pessoas a Boa Nova que eles ouviram, de cristãos cheios de alegria apesar de serem ainda enfrentandos a
perseguição, o ciúme, as calúnias. Cristãos que, aliás, não são perfeitos em si. Nos capítulos anteriores, lemos que, já na Igreja primitiva, existiam cristãos desonestos. Mesmo cheios do
Espírito Santo, os cristãos não são nada menos que seres humanos, com todas as suas fraquezas. É isso mesmo que estamos vendo hoje de uma maneira que doi muito.
O conselho dado por Paulo e Barnabé ainda é válido. Incitam-nos a não desanimar-nos, especificamente para permanecermos fiéis à graça de Deus. Paulo e Barnabé não chamam primeiro a fazer esforços
ascéticas. Se trata aqui de outra coisa que segurar a barra, embora às vezes pode ser necessário. A perseverança é principalmente demonstrar uma atitude de abertura à graça de Deus, à proposta de
um Amor pessoal que é Deus e que nos é dado permanentemente como um dom. Se trata portanto de receber algo (alguém), muito mais que fazer ou dar.
A pergunta que surge então é a seguinte : o que é essa graça que pode nos fazer transbordar de alegria, que nos dá força para perseverar e percorrer o mundo afora para compartilhar o Evangelho
com os outros ? Essa graça teria alguma relação com o núcleo do próprio Evangelho ? De qualquer maneira, é neste sentido que o Evangelho desse Dia Mundial de Oração pelas Vocações nos convida a
procurar para a resposta.
"As minhas ovelhas ouvem a minha voz. Eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna."
Vamos fazer três observações a respeito dessa palavra bem conhecida do capítulo 10 de São João.
1/ O Senhor nos conhece. Ele nos ama. Não se pode conhecer bem alguem, a não ser amando-o. O Senhor nós conhece de A a Z. Seu desejo é dar-nos a vida, uma vida abundante. Quem ama alguém deseja
para ele o que existe de melhor. Um pai ou uma mãe daria tudo para a felicidade dos seus filhos. Quanto mais Jesus por nós !
2/ O Senhor nos conhece. Ele nos ama. E é por isso que ele nos chama. Talvez o essencial da Boa Nova é que Deus chama cada um de nós de maneira única. Ele não chama "em geral". Ele não nos chama
de maneira arbitrária, como se fóssemos números esperando numa fila de espera na frente de uma administração pública qualquer. Não! Quando Jesus chama, ele faz isso, animado por um desejo de amor
pessoal para todos. A maioria dos homens são chamados a encarnar o Amor infinito de Deus para a humanidade na aliança de casamento. Mas Jesus também chama alguns para seguir o sacerdócio ou à
vida consagrada. Tem sido assim desde o início da Igreja. Dois mil anos depois, nada mudou. Ainda hoje, homens e mulheres são chamados a uma vida consagrada e integralmente dada a Deus. Será que
acreditamos ? Será que ousamos acreditar nessa forma que Deus tem de se interessar em cada um de nós individualmente ?
3/ Isso nos leva ao terceiro ponto: as ovelhas ouvem a voz do pastor e elas o seguem. A confiança (fé) das ovelhas no seu pastor é tão grande que eles estão dispostos a colocar suas vidas em
risco. Eles não apenas se contentam com retórica ou votos piedosos. Eles mostram a sua confiança na realidade da existência de cada dia. Estamos prontos para anunciar a Boa Nova do apelo pessoal
de um Deus de Amor no mundo de hoje e, acima de tudo, crer nisso e viver disso nós mesmos? Será que temos a coragem de acreditar na radicalidade do Amor de Deus em palavras e atos, e assim
permitir que os jovens possam encontrar a Boa Notícia de sua vocação ?
A Igreja de Jesus Cristo precisa de sacerdotes, de diáconos e de pessoas consagradas. Mais que nunca ! Não é principalmente para tapar buracos, mas para testemunhar de uma forma especial esta Boa
Notícia de Deus que chama cada homem à plenitude da vida.
Para encerrar, não esqueçamos que este domingo é essencialmente o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Então oremos para pedir a graça de poder viver a nossa vocação individual no casamento, no
celibato (mesmo não escolhido), no sacerdócio, na vida consagrada, de maneira a despertar na juventude cristã de nossas paróquias e de comunidades o desejo de responder também plenamente a
própria vocação.
Padre Walter Covens