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Publié par Walter Covens

1 Avent C 1lec
    Já estamos no tempo do Advento, princípio dum novo ano litúrgico. O Evangelho desse princípio do ano parece-se muito com o do fim do ano anterior (33° domingo B). Pois, ele pertence também aos « apocalipses sinópticos. O texto de S. Lucas é aquele que melhor faz a distinção entre o que diz respeito à Destruição de Jerusalém e a Parusia. Como toda a literatura apocalíptica da Bíblia ele é um convite à esperança, à esperança contra toda a esperança, pois é uma esperança dentro dum tempo de provas, de subversões, uma esperança que não está baseada sobre sinais de renovação, de melhoração, de alívio, mas só sobre a promessa de Deus. Por isso é que a esperança está simbolizada pela âncora (cf. He 6, 19). A âncora é aquilo que impede o návio ser apanhado pelas águas andar sem governo. A esperança é aquele virtude teologal que o Senhor nos deixa para podermos ficar firmamente agarrados na terra firme das suas promessas no meio das tempestades do mundo.

    Ora, qual é essa promessa ? É uma promessa de felicidade, de felicidade infinita, de felicidade perfeita. É aquela que nos lembra a primeira Leitura : « Estão a chegar dias em que cumprirei a promessa de felicidade que fiz à casa de Israel e à casa de Judá ». Não é o Pofeta quem o diz, é mesmo a « Palavra do Senhor ». Aquela « Palavra do Senhor » é uma « palavra boa ». Portanto é uma boa nova, um evangelho.

    Qual é a felicidade prometida por Deus, a promessa que o Senhor há-de cumprir ? Não é uma felicidade pequena, de pacotilha. É a promessa que o Senhor fez a David por intermédio de Natã : « Quando a tua vida acabar e descansares junto dos teus pais, eu dar-te-ei um sucessor na tua descendência, nascido de ti, e tornarei estável a sua realeza » (2 S 7, 12) Essa certeza é penhor de felicidade, pois a realeza havia-de trazer ao povo a certeza duma protecção contra os inimigos (« Jerusalém ficará segura »), e portanto certeza de paz, de prosperidade, de justiça. É mesmo a certeza de felicidade duradoura : « A tua casa e a tua realeza ficarão sempre diante de Mim, o teu trono ficara estável para sempre » (2 S 7, 16)

    Ora, os sucessores de David, e o próprio David, nunca conseguiram verdadeiramente realizar aquela promessa do Senhor, e a esperança do povo foi abalada quando os reis sucessivos, em vez de estabelecer o reino da paz e da justiça, fizeram « o que é mal aos olhos do Senhor », e por isso levaram o povo até à ruína. Na primeira leitura da missa, quando o Senhor renova solenemente a sua promessa, não só nenhum rei tinha corespondido a essa esperança, ao « retrato-robot » do rei ideal, mas já não havia rei ! O reino que David tinha deixado a Salomão, o seu filho e sucessor, tinha sido dividido : « a casa de Israel » e « a casa de Judá » : Judá e Israel já eram irmãos inimigos. O Povo estava cada vez mais desiludido. A promessa do Senhor parecia cada vez mais fictícia, irreal, a  felicidade prometida cada vez mais longinqua e utópica.


    Naquelas condições, como era possível ficar sem dúvidas ? Como era possível não criticar todos quantos tinham anunciado « palavras boas » dizendo : « Palavra do Senhor » ? Como era possível não querer mal ao Deus que, desde havia séculos tinha feito aquelas promessas tão bonitas, aparentemente nunca cumpridas ? A primeira resposta é esta : para o Senhor, « mil anos são como que um dia ! » (Ps 90,4 ). Um século, para Deus, é só uma hora ! A seguir, não é Deus que não cumpre as suas promessas, são os homens. Deus faz promessas no quadro duma Aliança. Portanto, deve haver reciprocidade. Por isso é que, quando os homens o criticam, Deus responde : « Serei eu que seja duro para convosco ? Não sereis vós que sejais duros para comigo ? » (cf.Ml 3,13). Quando os homens dizem de Deus : « O procedimento de Deus é estranho », o Senhor responde que o que é estranho é o comportamento dos homens (cf. Ez 18, 25 ;29). Quando, aos olhos dos homens Deus parece tardar, não é Ele que é lento, os homens são quem tardam. Deus, por sua parte, é paciente e oferece o tempo para se converter (2 P 3,9)

    Nós sabemos, pelo menos teoricamente, que Deus cumpriu em Jesus todas as suas promessas (cf. 2 Co  1, 20). Ora, o que é que acontece ? No mesmo momento em que Jesus vem, não para abolir mas sim para cumprir, muitos dentro do povo e dos chefes rejeitam-no. Encontramos aqui, mais uma vez o terrível paradoxo da vida com Deus. No domingo de Cristo, Rei do Universo,o Evangelho mostra-nos um Cristo julgado e condenado por Pilatos, um rei coroado de espinhos, um rei crucificado ! É aquele Rei, descendente de David, que vem cumprir as promessas. Ora, ninguém o quer acolher… Pelo contrário, no momento em que o povo queria levar Jesus à força para o fazer Rei (porque acabava de lhes dar pão à fartura, Jesus tinha fugido para evitar os fastos da coroação.

    É no contexto da Paixão que Jesus dá o seu testemunho supremo da Verdade da sua realeza. A Verdade, é esse o objecto da nossa fé. A fé é uma certeza, mas uma certeza que não deixa de encontrar obstáculos, uma vez que não é a certeza evidente duma verdade conforme as medidas da nossa natureza humana ; é,sim, a certeza da Verdade na noite, da Verdade dos pensametos de Deus que estão muito acima do céu e da terra. (cf. Is 55, 9) A fé implica portanto uma espera, a espera duma contemplação face a face duma verdade muito grande para a nossa pobre inteligência, enquanto estamos na terra.

    A esperança também é uma espera. Mas enquanto que na fé esperamos pelo encontro com a Verdade suprema que não podemos contemplar aqui em baxo, com a esperança estamos à espera da possessão da plenitude do bem,da felicidade que não podemos gozar aqui. É mesmo uma coisa louca pela qual esperamos : o encontro com o bem Supremo, com o próprio Deus, o único que possa satisfazer o nosso  desejo e que estará todo em todos (cf. 1 Co 15, 28) Só o amor infinito e todo-poderoso de Deus pode satisfazer todos os desejos de todas as criaturas, dos anjos e dos homens. Então aderimos a Deus já não como Princípio de Luz, mas também como Princípio beatificante capaz de matar a sede duma felicidade muito grande para o meu pobre coração, a sede de felicidade de todas as suas criaturas.

    Aquela espera ultrapassa as nossas capacidades humanas. Os homens podem esperar com um amor humano uma felicidade humana, um mundo melhor ; não podem esperar com uma esperança teologal sem o auxílio de Deus. Podemos cantar com Guy BEART :

É a esperança louca
Que dança e voa
Por cima dos tectos,
Das casas e das praças.
A terra é baixa :
Eu voo para ti.

Tudo está alcançado de antemão ;
Eu começo novamente,
Subo de pés nus
Até ao cimo dos montes,mastros de cocanha
Dos céus desconhecidos

    Mas quais são esses montes desconhecidos ? Guy Béart é natural do Libano. Viveu no Libano, durante uma grade parte de sua juventude ; foi là uma primeira vez, no ano de 1989, à procura do túmulo do seu pai… Não teve tempo para procurar. Era a guerra. Ele próprio conta como escreveu mais uma canção : « Livre Libano ».

Ao regresar da praça dos Mártires, encontrei um companheiro de infância. O pai dele vendia instrumentos de música quand ele tinha 7 anos e eu 12. Tratava sempre de música. Ajudou-me para reunir crianças e adolescentes libaneses no bairro de Dora, devastado, aniquilado, mas menos perigoso hoje do que a Praça dos Canhões ; esse bairro parece-se com um apocalipse de ciência-ficção com os prédios em ruínas, os seus canos de petróleo queimados, torcidos. Alecco HABIB, cantor e músico libanês, emprestou-me a sua guitarra. E Jacques LUSSAN , « kiné », poeta e cantor que me tinha feito a amizade de me acompanhar naquela aventura, realizou, mediante o meu velho gravador, a gravação desse grupo coral improvisado.

Eis algumas palavras dessa canção :

Levantemos o verde da esperança,
O verde do cedro libanês,
O branco do leite da nascença,
O vermelho do sangue dos vivos.

Levantemos o verde da esperança !
Juntos, em toda a parte, melhor do que dantes,
Reunidos para o renascimento
Do mundo em paz pelos seus filhos.

Libano livre
Livre Libano

    Passaram 17 anos… Sabeis o que se seguiu : os acontecimentos dos últimos meses, dos últimos dias. E não acabou, de certeza. Ora, podeis verificar isto : nestas condições, humanamente, tendes que cair no desespero. Mas se tiverdes a força da graça,, podereis fazer o que Jesus diz no Evangelho : « Quando começarem esses acontecimentos, erguei-vos e levantai a cabeça, pois a vossa redenção está próxima, enquanto que « os homens morrerão de medo por causa das infelicidades a caír sobre o mundo »

    Mas se o vosso coração se tornar pesado « na desordem, na embriaguez e nos cuidados da vida », se não rezardes « todo o tempo », não podereis resistir. Não podereis fugir. Não quer dizer que, se rezardes, não virá infelicidade alguma : essa ainda é uma espera humana. « Pão e jogos » : não é isso que Jesus promete. Sucessos a aplausos também não. Se eu vos prometesse no meu « blog »um meio certo para ganhar no proximo « Tiercé » - versão moderna da multiplicação dos pães, mas só para alguns « felizes »( ?) – com certeza que encontraria um sucesso enorme. Não,pelo contrário, aos que rezam e o seguem Jesus anuncia perseguições, que os outros não conhecerão. Por isso é que não quis ser proclamado Messias antes da Páscoa, afim de preservar os seus discípulos daquelas perigosas ilusões. Isso nem sempre bastou. O perigo que vós fugireis é o de perder a fé e de caír no desespero. Fugireis o perigo de olhr para os falsos profetas que vos oferecerão paraísos ilusórios ;fugireis o perigo de vos olhar a vós mesmos como Messias.

    Guy Béart dizia : « Temos todos, agora, que tentar comportar-nos como se fossemos, durante alguns minutos, alguns segundos, o Messias, porque o planeta inteiro está em perigo ». Isto teria o significado de que Jesus teria que deixar , alguns momentos, de ser o Messias… Não, direis vós : « O Senhor é a nossa justiça ».

    Caso contemos com as nossas próprias forças para salvar o mundo, já estamos perdidos. A Paz de Deus não é o resultado dos nossos esforços. A Paz de Deus é o próprio Deus, tal como se dá àquele que aceita dar-lhe lugar para o acolher. Oferecer-lhe lugar , isto significa também estar dispostos a ver desaparecer as nossas esperas de felicidade humana, para que a felicidade de Deus possa ocupar toto o espaço. Bom Advento !


(tradução : G.Jeuge)
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